A língua falada e a língua escrita

Antes de começar a escrever, acho importante definir língua falada e língua escrita. Nós não falamos da mesma maneira que escrevemos e também não escrevemos da mesma maneira que falamos. Há palavras que escrevemos, mas não falamos e há palavras que falamos, mas não escrevemos.

A língua falada é dinâmica, é rápida e muitas vezes fazemos sem pensar muito. Apenas falamos o que temos que dizer. É um processo natural. Ela possui marcações, vícios, pausas e hesitações que não ficam bem na escrita. Se tentarmos reproduzir a fala na escrita, o texto fica chato, ruim, cansativo. Mesmo que seja interessante fazer essas reproduções, é preciso ter cuidado. E está tudo bem falarmos do jeito que falamos.

A escrita é um processo mais pensado, trabalhado e demorado. Ela é a representação da fala. Quando vamos escrever, temos que estar atentos a três coisas: para quem, como e o que queremos dizer. O público para o qual vamos escrever merece uma determinada linguagem. É necessário adaptar a escrita a esse público. A forma como vamos escrever também é importante porque cada um recebe a informação de formas diferentes. Estamos escrevendo para jovens ou para pessoas com mais idade? Qual a faixa etária? Dependendo do nosso público, nossa escrita pode ser mais descolada, descontraída ou mais formal. Tudo depende do bom senso. Às vezes, podemos ter uma escrita mais coloquial e isso cai bem. Às vezes, não. E o que vamos escrever? Esta questão precisa estar bem clara e definida. Uma forma de definir o que vamos escrever é fazer uma lista das ideias principais, tópicos e palavras-chave. Fazer um brainstorming pode ajudar bastante e falarei disso mais adiante. 

O que geralmente faço é meio que criar o texto na cabeça. Fico pensando em como vou estruturar o texto, pelo menos o começo. E quando vou passar para o papel, ele vai saindo. Dá certo na maioria dos casos. Às vezes, tenho que reestruturar ou reescrever o texto todo. O importante é escrever e colocar as ideias no papel.

 

Guilherme Rodrigues

Mito 3: É preciso dominar a gramática normativa

Talvez este seja o mais danoso dos mitos. Vejo por aí muitas pessoas preocupadas em aprender gramática normativa para melhorar a escrita. Você pode decorar a gramática do começo ao fim e isso não o fará escrever melhor.

Há pessoas que conhecem bem a gramática, mas não escrevem um bom texto. Por outro lado, muitos escritores não têm amplo domínio da gramática, mas escrevem muito bem. No geral, o que faz você escrever melhor é ler e praticar escrever. Apenas decorar regras não faz com que escreva melhor.

Saber gramática é bom, inevitável e você precisa saber um pouco, sim. Minha opinião é que pode fazer mal e até travar a escrita se for de forma exagerada. Pessoas já me perguntaram se era certo falar ou escrever assim ou assado (exemplo: estar em férias ou estar de férias?) e eu disse que ambas as formas eram corretas e aceitáveis. Eu percebo que há um medo em escrever errado até as coisas mais simples do nosso idioma e credito isso ao ensino equivocado da gramática normativa nas escolas e cursos.

Tomo como exemplo o estudo de gramática de língua estrangeira. Estudar a gramática do inglês não vai fazer você fluente no idioma, apenas conhecer bem a gramática. Mas você não conseguirá ouvir e se comunicar em inglês com falantes nativos. É preciso mais do que isso. A mesma coisa é com a escrita. Não se aprende a escrever estudando gramática, embora ajude. Para escrever bem é necessário praticar.

Mito 2: Só quem fez letras ou jornalismo é quem escreve bem

É verdade que muitos escritores cursaram Letras ou Jornalismo. Mas não são a maioria. Eu mesmo fiz Letras porque gosto de escrever e pensei que me ajudaria a me tornar um escritor. Ainda não virei escritor e o curso não me ajudou muito, quase nada, na escrita.

Vamos citar alguns exemplos. A escritora R. J. Palacio autora de Extraordinário foi diretora editorial, editora de arte, designer gráfica, ilustradora e chegou a desenhar dezenas de capas de livros antes de publicar seus próprios livros.

O autor de O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry, era aviador. O narrador do seu célebre livro também é aviador e é uma referência à sua experiência quando caiu no deserto do Saara com seu avião.

George Orwell autor de A Revolução dos Bichos era policial e depois virou jornalista. O escocês Arthur Conan Doyle criador do detetive Sherlock Holmes era médico. Vladimir Nabokov escritor de Lolita era entomologista (estudava insetos), era bem famoso e respeitado nesse meio acadêmico. Stephen King foi zelador e faxineiro em uma escola de ensino médio antes de virar escritor de mais de 60 livros e ter adaptações para o cinema.

Só para citar alguns. A lista é enorme e eu poderia ficar aqui exaustivamente citando escritores que não são formados em Letras ou Jornalismo. A questão é que há mais gente não especializada em áreas da língua e da escrita escrevendo do que o contrário. Qualquer um pode escrever.

Usamos muito a linguagem escrita no nosso cotidiano e é bom mantermos um nível adequado para escrever um e-mail, um bilhete, nossos trabalhos e nos expressar. Por ser algo frequente em nossa vida, é mais fácil qualquer pessoa desenvolver essa habilidade do que, por exemplo, conhecer a fundo física quântica que, apesar de ser um saber válido e importante, não o utilizamos diariamente, a não ser que você seja um físico e cientista.

 

Guilherme Rodrigues

Mito 1: O dom da escrita

Há pelo menos três mitos que rondam a habilidade de escrever que não são verdadeiros e precisamos desfazê-los agora.

Neste primeiro texto, falaremos sobre o primeiro deles: o dom.

O dom não existe. Todo trabalho bem feito, que beira a perfeição exigiu muita dedicação e tempo. Ninguém fica bom da noite para o dia. As belas palavras do escritor não surgiram magicamente na cabeça dele e foram passadas diretamente para o papel. O trabalho dele exigiu dedicação, horas, dias, meses, anos escolhendo as melhores palavras, adaptando, apagando e reescrevendo.

Acha mesmo que um pianista simplesmente começou a tocar aquela música maravilhosa de uma hora para outra? Acha que um jogador de futebol nasceu sabendo cobrar faltas com precisão? Não mesmo. Eles precisaram treinar muito todos os dias, várias e várias horas. Percorreram árduo e longo caminho até chegar aonde chegaram.

Conta-se que um dia perguntaram a um escritor como ele escreveu uma determinada história e ele disse que ela simplesmente surgiu enquanto caminhava pelo jardim. Quando esse escritor morreu, descobriram páginas e páginas de revisão desse mesmo texto na casa dele. Não houve inspiração como ele contou, houve trabalho.

Escrever é uma habilidade como jogar futebol, tocar um instrumento musical, desenhar, pintar ou esculpir. Qualquer atividade que você se propuser a fazer com afinco e dedicação um dia você se tornará bom. É um processo natural.

Se você não escreve bem, se acha que não nasceu para escrever, mas precisa melhorar a escrita, saiba que você pode sim escrever muito bem. Basta praticar. Saber escrever vai ajudá-lo na sua vida profissional. As empresas valorizam quem sabe escrever e se comunicar bem.

Comece a escrever hoje. Reserve alguns minutos do dia para essa atividade. Eu recomendo cinco minutos e se você quiser escrever por mais tempo, continue.

 

Guilherme Rodrigues

A norma padrão

A norma padrão é a norma descrita pela gramática normativa a modalidade de maior prestígio da língua. A norma padrão é cobrada em provas, concursos e documentos oficiais. É na norma padrão que são escritos os livros. É na norma padrão que devemos escrever nossos textos na escola, faculdade e trabalho. Este texto é escrito seguindo a norma padrão.

Os gramáticos consideram erro tudo que não está prescrito pela gramática normativa e qualquer desvio da norma padrão da língua portuguesa está errado de acordo com eles.

A norma padrão é o ideal de língua a ser alcançado. Praticamente ela não existe na modalidade falada da língua porque ninguém fala 100% correto, tudo certinho. Nós falamos diferente de quando escrevemos. Há palavras que escrevemos, mas não falamos e há palavras que falamos, mas não escrevemos. Tudo depende de bom senso para usar adequadamente as variações do português no momento certo.

O importante é que devemos saber escrever bem na norma padrão, dominá-la para escrever suficientemente bem.

 

Guilherme Rodrigues

A ortografia

A ortografia é uma convenção.  Ela surgiu na Grécia antiga quando os gramáticos e linguistas gregos observaram os textos dos considerados melhores escritores da época e criaram a ortografia baseada nos textos deles. Dessa forma, definiram a maneira correta de se escrever e até hoje seguimos esse padrão.

Se pegarmos textos antigos em português veremos palavras escritas de diferentes formas. Isso acontece porque antigamente a ortografia da língua portuguesa não estava consolidada. Hoje temos uma ortografia definida e poucas palavras admitem variações na forma de escrever. 

Tudo deve ter um padrão para se organizar e a ortografia serve para padronizar a forma como escrevemos as palavras. Já pensou se não houvesse ortografia e cada um escrevesse como quisesse? Viraria uma bagunça e dificultaria nossa comunicação escrita.

O que eu recomendo para aprender a ortografia é ler e prestar atenção à maneira como as palavras são escritas e pesquisar no Google e em dicionários quando alguma dúvida surgir. Foi assim que aprendi e é assim que faço até hoje. É ruim quando a pessoa acaba de ler uma palavra e em seguida a escreve errada. 

Aprende-se ortografia lendo!

 

Guilherme Rodrigues

A Gramática Normativa

A primeira gramática normativa surgiu na Grécia antiga quando os primeiros gramáticos e linguistas observaram os textos e discursos dos melhores escritores e oradores da época e criaram um conjunto de regras para a língua escrita. 

A gramática normativa é as regras da língua, no nosso caso o português. Ela é uma convenção entre um grupo de pessoas e até hoje seguimos esse padrão. Tudo que estiver fora desse padrão é considerado erro. A gramática determina como se deve escrever. É um modelo de língua a ser seguido. Este texto segue a gramática normativa.

Já pensou se não houvesse uma norma gramatical para escrever? Todo mundo escreveria de um jeito e tudo ficaria mais difícil. A gramática é como as nossas leis para viver em sociedade ou as leis de trânsito para mantermos a organização nas ruas. Se todo mundo pudesse fazer o que quisesse e dirigir como bem entendesse, viria uma bagunça.

O domínio da gramática normativa vem com o tempo à medida que lemos e escrevemos. Ler e escrever garante que aprendamos a gramática de forma intuitiva. As regras da gramática normativa vão se internalizando com o tempo e de forma natural. É claro que às vezes precisaremos pesquisar, dar uma olhadinha no Google, mas não significa estudar a gramática de capa a capa, a não ser que você vá prestar vestibular ou concurso. Aí tem que estudar, sim, todas as regrinhas.

Lendo e prestando atenção a como as palavras são usadas e organizadas dentro do texto aprendemos a gramática normativa de forma natural.

 

Guilherme Rodrigues

A leitura atenta

Depois que você começou a ler e fez ou está fazendo da leitura um hábito, comece então a observar atentamente as palavras, as frases, as estruturas e a ortografia. Perceba como as frases se organizam para formar o texto. Note as escolhas das palavras que o autor fez para produzir o texto. A escolha delas é importante para dar o sentido desejado ao texto.

Pode parecer uma tarefa difícil no primeiro momento, mas ler prestando atenção às palavras demora quase o mesmo tempo, ou o mesmo tempo, que ler rapidamente. Não é difícil. Ler atentamente faz com que ganhemos consciência sobre o texto e nos ajuda a aprender a como escrever. Nós conseguimos perceber como o texto foi produzido para passar a mensagem que autor quis passar. É criar um pouco de leitura crítica sobre os textos que lemos e isso não é difícil. Acontece naturalmente e ficamos melhor com o tempo.

Preste muita atenção em cada palavra, à ortografia. Isso é realmente importante. Você pode não saber tudo sobre gramática e ter dúvidas sobre ela, mas a ortografia é muito mais importante que a gramática. A gramática se acerta com o tempo, mas é bem ruim a pessoa ler e no momento seguinte escrever a mesma palavra com a ortografia errada. Muita atenção para não cometer esse erro. Se estiver em dúvida sobre a correta ortografia da palavra ou qualquer outra coisa, procure no Google. É rápido, simples e indolor.

Alguns erros podem passar. Eu mesmo ao escrever este texto posso cometer erros. É normal. Mas logo que eu terminar de escrever e  revisar, vou consertando, reescrevendo e melhorando-o. E até alguns erros podem ainda passar depois da última revisão. Quem nunca pegou um livro com algum erro? O importante é que esses erros diminuam quase a zero depois da última revisão. O ideal é que eles não passem.

O gosto por ler

É possível também aprender a gostar de ler. Pense que podemos aprender muito lendo livros, que você pode aprender com outras pessoas, os autores dos livros, sobre a sua área de atuação. Pense que podemos aprender mais coisas e aplicá-las no nosso dia a dia. Pense que podemos aprender a ser uma pessoa melhor, um profissional melhor, a ganhar dinheiro com outras coisas e assim aumentar nossas fontes de renda.

Com a leitura, nós estamos sempre aprendendo e, além disso, faz bem à saúde. A leitura acalma, relaxa e é um exercício para o cérebro. Nós temos que entender que com a leitura podemos aprender coisas e a se desenvolver. É um benefício que ganhamos. Cada vez que leio um livro me sinto melhor do que antes e isso faz com que eu continue a ler mais.

Leia um pouco por dia. 30 minutos por dia, se ainda for muito, diminua e vá com calma. Leia sobre algo que você goste, pode ser futebol, a biografia de uma pessoa que admira, contos, poesias, livros infantis. Qualquer coisa que motive você a ler mais e a continuar a procurar novos livros, novos assuntos, até que ler vire um hábito.

Nós brasileiros não fomos educados a ler. A média de leitura são dois livros por ano. É muito, muito pouco. E eu já fui assim há muitos anos. Eu não lia. Mas quando percebi que poderia ganhar algo lendo, que eu poderia aprender coisas e que ler coisas que me interessavam me deixava feliz, me dava prazer, comecei a ler mais. Hoje ler é um hábito para mim. Estou sempre lendo alguma coisa. Você pode tentar fazer igual.

 

Guilherme Rodrigues

O hábito da leitura

É preciso ler antes de começar a escrever bem. A leitura atenta faz com que percebamos como as palavras são escritas, como elas foram usadas, as estruturas das frases e como foram organizadas para formar o texto. Pela leitura, aprendemos e conhecemos o mundo ao nosso redor e assim adquirimos conteúdo para produzir nossos textos. Quanto mais lemos e escrevemos, melhor ficamos.

Um jornalista precisa ler, pesquisar e se informar antes de criar uma reportagem, um artigo ou uma matéria. Sem leitura, ele não consegue fazer nada. Assim é com qualquer outra pessoa. Um texto não surge do nada.

Um hábito pode ser criado e para criar o hábito da leitura é preciso ler. Você pode não estar acostumado a ler. Você pode não gostar de ler. Mas isso não é realmente um problema porque é possível aprender a gostar de ler. Leia um pouco por dia. Leia 30 minutos todos os dias. Se ainda for muito, diminua para 20, ou 15, ou ainda 10 e com o tempo você vai aumentando.

Procure assuntos que despertem seu interesse. Podem ser relacionados ao seu trabalho, talvez você queira aprender a investir, talvez queira aprender história, talvez queira aprender uma segunda língua, informática, saber sobre outro país. Leia um livro sobre o assunto de que você gosta, auto-ajuda, melhoramento pessoal, romance, poesia. Qualquer coisa. O importante é começar e ir aos poucos.

Sente-se em uma cadeira confortável, pode se deitar também, em um ambiente agradável e comece a ler. A leitura deve ser prazerosa, não force. Quando cansar, vá fazer outra coisa e recomece depois.

Há uma porção de coisas para fazer, mas ler também é legal, é bom e faz bem. Pense no que podemos ganhar com a leitura. Aprimorar uma habilidade e ser um profissional e pessoa cada vez melhor.

 

Guilherme Rodrigues