Mito 3: É preciso dominar a gramática normativa

Talvez este seja o mais danoso dos mitos. Vejo por aí muitas pessoas preocupadas em aprender gramática normativa para melhorar a escrita. Você pode decorar a gramática do começo ao fim e isso não o fará escrever melhor.

Há pessoas que conhecem bem a gramática, mas não escrevem um bom texto. Por outro lado, muitos escritores não têm amplo domínio da gramática, mas escrevem muito bem. No geral, o que faz você escrever melhor é ler e praticar escrever. Apenas decorar regras não faz com que escreva melhor.

Saber gramática é bom, inevitável e você precisa saber um pouco, sim. Minha opinião é que pode fazer mal e até travar a escrita se for de forma exagerada. Pessoas já me perguntaram se era certo falar ou escrever assim ou assado (exemplo: estar em férias ou estar de férias?) e eu disse que ambas as formas eram corretas e aceitáveis. Eu percebo que há um medo em escrever errado até as coisas mais simples do nosso idioma e credito isso ao ensino equivocado da gramática normativa nas escolas e cursos.

Tomo como exemplo o estudo de gramática de língua estrangeira. Estudar a gramática do inglês não vai fazer você fluente no idioma, apenas conhecer bem a gramática. Mas você não conseguirá ouvir e se comunicar em inglês com falantes nativos. É preciso mais do que isso. A mesma coisa é com a escrita. Não se aprende a escrever estudando gramática, embora ajude. Para escrever bem é necessário praticar.

Mito 2: Só quem fez letras ou jornalismo é quem escreve bem

É verdade que muitos escritores cursaram Letras ou Jornalismo. Mas não são a maioria. Eu mesmo fiz Letras porque gosto de escrever e pensei que me ajudaria a me tornar um escritor. Ainda não virei escritor e o curso não me ajudou muito, quase nada, na escrita.

Vamos citar alguns exemplos. A escritora R. J. Palacio autora de Extraordinário foi diretora editorial, editora de arte, designer gráfica, ilustradora e chegou a desenhar dezenas de capas de livros antes de publicar seus próprios livros.

O autor de O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry, era aviador. O narrador do seu célebre livro também é aviador e é uma referência à sua experiência quando caiu no deserto do Saara com seu avião.

George Orwell autor de A Revolução dos Bichos era policial e depois virou jornalista. O escocês Arthur Conan Doyle criador do detetive Sherlock Holmes era médico. Vladimir Nabokov escritor de Lolita era entomologista (estudava insetos), era bem famoso e respeitado nesse meio acadêmico. Stephen King foi zelador e faxineiro em uma escola de ensino médio antes de virar escritor de mais de 60 livros e ter adaptações para o cinema.

Só para citar alguns. A lista é enorme e eu poderia ficar aqui exaustivamente citando escritores que não são formados em Letras ou Jornalismo. A questão é que há mais gente não especializada em áreas da língua e da escrita escrevendo do que o contrário. Qualquer um pode escrever.

Usamos muito a linguagem escrita no nosso cotidiano e é bom mantermos um nível adequado para escrever um e-mail, um bilhete, nossos trabalhos e nos expressar. Por ser algo frequente em nossa vida, é mais fácil qualquer pessoa desenvolver essa habilidade do que, por exemplo, conhecer a fundo física quântica que, apesar de ser um saber válido e importante, não o utilizamos diariamente, a não ser que você seja um físico e cientista.

 

Guilherme Rodrigues

Mito 1: O dom da escrita

Há pelo menos três mitos que rondam a habilidade de escrever que não são verdadeiros e precisamos desfazê-los agora.

Neste primeiro texto, falaremos sobre o primeiro deles: o dom.

O dom não existe. Todo trabalho bem feito, que beira a perfeição exigiu muita dedicação e tempo. Ninguém fica bom da noite para o dia. As belas palavras do escritor não surgiram magicamente na cabeça dele e foram passadas diretamente para o papel. O trabalho dele exigiu dedicação, horas, dias, meses, anos escolhendo as melhores palavras, adaptando, apagando e reescrevendo.

Acha mesmo que um pianista simplesmente começou a tocar aquela música maravilhosa de uma hora para outra? Acha que um jogador de futebol nasceu sabendo cobrar faltas com precisão? Não mesmo. Eles precisaram treinar muito todos os dias, várias e várias horas. Percorreram árduo e longo caminho até chegar aonde chegaram.

Conta-se que um dia perguntaram a um escritor como ele escreveu uma determinada história e ele disse que ela simplesmente surgiu enquanto caminhava pelo jardim. Quando esse escritor morreu, descobriram páginas e páginas de revisão desse mesmo texto na casa dele. Não houve inspiração como ele contou, houve trabalho.

Escrever é uma habilidade como jogar futebol, tocar um instrumento musical, desenhar, pintar ou esculpir. Qualquer atividade que você se propuser a fazer com afinco e dedicação um dia você se tornará bom. É um processo natural.

Se você não escreve bem, se acha que não nasceu para escrever, mas precisa melhorar a escrita, saiba que você pode sim escrever muito bem. Basta praticar. Saber escrever vai ajudá-lo na sua vida profissional. As empresas valorizam quem sabe escrever e se comunicar bem.

Comece a escrever hoje. Reserve alguns minutos do dia para essa atividade. Eu recomendo cinco minutos e se você quiser escrever por mais tempo, continue.

 

Guilherme Rodrigues